Relato Mãe de Anjo
O relato de hoje é da querida Lusilene, mãe do anjo Camila.
Tudo começou na primeira gestação, tudo perfeito e tranquilo, assim que a Laura nasceu, coloquei o DIU, e decidimos que lá pros 4 anos dela, tiraríamos o DIU é teríamos outro filho.
Enfim, chegou Setembro de 2018, era dia do aniversário do meu pai (se ele estivesse vivo), tirei e começamos os trabalhos para a tentativa do segundo filho.
Em 12 de Outubro eu deveria menstruar, mas não veio, cinco dias depois estava de folga e não aguentei a ansiedade e comprei o teste de farmácia.
O Positivo
Deu positivo, mas a segunda listra estava clarinha, esperei uma semana e repeti o teste, POSITIVÃO!
Fiz um vídeo da Laura abrindo o pacote do teste e revelando a gravidez e mandei apenas para a família.
A essa altura já tinha ligado pro meu marido e pra minha mãe (chorando) pra contar a boa nova.
O Pré-Natal
Marquei a primeira consulta do pré-natal, conheci a Dra Érika, que seria um anjo em nossas vidas. Ela pediu a primeiro ultra, e todos os exames de sangue.
O exame estava agendado para as 7 semanas de gestação, mas com 6 semanas tive um sangramento e fui para o hospital.
Chegando lá fui fazer a ultra e o médico não encontrava os batimentos, disse que o sangramento já poderia ser o início de um aborto.
Fiquei em choque!!!!
O médico percebendo minha reação resolveu procurar melhor e conseguiu encontrar. Fiquei mais aliviada, mas tive que fazer repouso por uma semana.
Voltei ao trabalho, e ali já estavam todos sabendo da gestação por conta do afastamento.
Fiz a ultra que a médica havia pedido, e lá foi encontrado os batimentos normalmente. Voltei a médica com o resultado da ultra e dos exames de sangue.
Deu uma alteração na glicemia, mas nada que uma dieta não resolvesse.
A Notícia
Dia 11/12/2018 O PIOR DIA DAS NOSSAS VIDAS!!
Esse foi o dia da primeira morfológica, como Laura estava começando com um pouco de ciúmes achei melhor leva-lá comigo pra assistir o exame, e assim participar de tudo para se sentir mais incluída.
Mal sabia o quanto pesada seria essa decisão.
Chegamos atrasadas pois a clínica era longe, e era a única com agenda para a data que precisava. Entramos para o exame, e já fui perguntando inocentemente se a Dra conseguia ver ou pelo menos chutar qual seria o sexo do bebê.
A médica começou o exame e demorou muito para falar qualquer coisa. Senti que algo estava errado, mas não quis pensar nisso, afinal a Laura estava comigo.
Ao final, ela deu a pior notícia que já tinha recebido na vida, meu bebê tinha uma síndrome rara, incompatível com a vida, chamada Síndrome de Body Stalk (síndrome do cordão curto) onde todos os órgãos de tórax e abdômen estavam todos pra fora.
A médica disse que eu tinha 3 opções… Interromper a gestação, seguir até o fim e correr o risco de morrer no parto, ou por conta da malformação a gestação interromper por si só.
Saí dali em choque, chorando, sem saber aonde iria, tudo isso com minha filha ao lado.
Os Exames
Marquei uma consulta com o geneticista da clínica, professor da Faculdade de Medicina, segundo minha médica um verdadeiro Papa para os médicos. Na consulta fui com meu marido.
O médico começou explicando que faria exames de genética, escreveu vários numa folha de receita médica e explicou cada um detalhe por detalhe, mas meu marido questionou, questionou muito as imagens não serem tão claras, então ele nos levou para outra ultra, e ali nossa menina, fixou quietinha e bem posicionada, como se soubesse que era necessário que víssemos e entendêssemos a situação dela.
Ao sair do exame, o médico pegou o papel de pedido dos exames e riscou. Disse que qualquer exame a partir dali era invasivo e desnecessário.
Que o que eu faria era analisar o que queria fazer: interromper ou seguir.
Como era perto do Natal ele disse que não encontraria atendimento fácil, que eu usasse esse tempo para pensar e buscar através da minha fé o que seria melhor.
Passei o pior Natal e o pior Ano Novo da minha vida. As pessoas que sabiam, mesmo sendo da minha família, já não tratavam Camila como um bebê vivo e esperado.
Agiam como se eu nem estivesse grávida. Isso me feria na alma.
A Decisão
A decisão de não interromper era certa pra mim, mas buscando opiniões diferentes, tudo só piorava. A situação de Camila piorava.
Com muito custo encontrei um médico que acompanhava exatamente o meu caso, e se fosse da minha vontade, encaminhava tudo para a interrupção.
Comecei a acompanhar com ele, e fiz várias ultras para acompanhar, ela estava saudável dentro do possível, mas a cada ultra ela criava uma maneira de piorar a minha situação. Chegou a criar uma membrana que estava “colando” no meu útero, e que quanto mais seguia, mais grudada ela ficava, e sendo assim poderia causar hemorragia durante o parto.
Resolvi então tomar a pior das minhas decisões, buscar a interrupção.
Recebi todos os documentos do hospital, e levei ao fórum. A juíza que cuidava do caso era pró-vida, e negava por conta de questões pessoais (ela não concordava com o aborto, mesmo com risco de morte para a mãe).
Julgamentos
O fato das negativas me fizeram procurar outras mães que já tivessem passado pelo mesmo problema. E encontrei mulheres que foram até o fim da gestação, o que me deu esperança.
Nesse tempo meu processo, que corria em segredo de justiça, foi liberado para um grupo pró-vida, que enviou duas mulheres estranhas a minha casa, sem aviso, na esperança de me fazer mudar de ideia.
Percebendo que meu marido estava irredutível sobre a questão da interrupção, elas fizeram um terror psicológico, dizendo que eu poderia morrer até mesmo fazendo o processo de interrupção.
A partir dali os dias ficaram piores, eu não dormia, eu não comia, tinha crises de ansiedade, palpitação, vômitos, tudo de nervoso em pensar que poderia morrer e deixar minha filha sem mãe (só quem cresceu sem mãe sabe come é).
Recebi até um vídeo de uma freira, que também era desse grupo que dizia ” O que nos leva a pecar?
“Foram dias de tormento, onde eu só queria passar o máximo de amor à minha filha que tanto sofria ainda tão pequena no ventre.
A Sentença
Enfim a sentença favorável saiu, e marquei a data do pior dia da minha vida.
Quando chegamos no hospital, já passando mal de nervoso, fizemos uma ultra primeiro, e enfim o coraçãozinho dela havia parado.
Era um misto de alívio e dor.
Fui pra casa esperar meu corpo agir sozinho, e no dia seguinte, quando as contrações apertaram, fomos para o hospital.
Fui internada na numa ala cirúrgica comum para não sofrer perto das mães que estava recebendo seus filhos vivos.
O Nascimento
No dia seguinte, após o processo de indução, minha menina nasceu, e por conta do cordão ser curto e estarmos com apenas 23 semanas de gestação, a placenta não saiu. Causando muita perda de sangue.
Me levaram para a sala de cirurgia, tudo muito corrido pois eu estava perdendo muito sangue, mas Deus é tão bom que não precisei nem mesmo receber bolsa de sangue.
No dia seguinte voltei pra casa, fui recepcionada por minha filha, que já estava preparada desde o início para a perda da irmã, que me abraçou e disse: Deixa eu sentir sua barriguinha vazia? Meu cachorro cheirou minha barriga, depois me lambeu, como se me consolasse.
A Despedida
No dia seguinte fomos pro cemitério, fizemos uma cerimônia curta, de poucos minutos, com apenas duas irmãs minhas e duas amigas. Foi simples mas muito lindo.
Desde então venho vivendo fases do luto, sempre um dia de cada vez… Mesmo antes de engravidar, eu sentia que aquele bebê seria o raio de Sol em dias de tempestade, por isso Camila hoje é o raio de Sol nessa minha tempestade que é o luto.
- Relato enviado pela seguidora Lusilene Barbosa, mãe do anjo Camila.
Camila
(@lusilenebarbosa)
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2 Comments
Muito obrigada, Aline! Deus te abençoe!
Eu que agradeço, obrigada por compartilhar sua história com a gente. Que Deus te abençoe muitooooo. Um abraço bem apertado.