Relato Mãe de Anjo
Estou aqui para contar a minha história, nunca contei assim com tantos detalhes para ninguém, mas senti que era necessário.
Então senta que lá vem história…
Tenho 22 anos, sou casada há 3 anos, e sempre tive o sonho de ser mãe, a gente esperava o “momento certo” por mais que eu soubesse que não existe, mas Luiz Miguel veio, em todos os sentidos, no momento certo.
O início
Parei com os remédios dia 28/04/2018 e no dia 16/06/2018 descobrimos nossa gravidez.
Foi bem rápido, assustador no começo, mas ficamos muito felizes, contamos para família toda, desejamos esse momento, foi mágico.
E o nosso desejo, do pai era explícito, queria menino, eu bem no fundo também sabia que desejava isso.
Uma gravidez tranquila, não passei mal no começo, não tive desejos, na medida do possível comia saudável.
Logo no primeiro ultrassom algo indesejado, estava com um hematoma na placenta – é como descolamento, mas bem imaturo.
Fiquei de repouso por 30 dias, com remédios para fechar, e fechou, vida normal.
Mas desde muito cedo, com aproximadamente 16/17 semanas meus pés começaram a inchar, fiz repouso, cortei sal, muita água, aferia a pressão 1 vez ao dia, e tudo regulado.
Pessoas mais velhas, profissionais da área da saúde, mães experientes, me diziam: “É normal, incha mesmo, faz repouso que passa!”
E aquilo não melhorava, conforme o tempo passava, só piorava, as pernas inchadas, as mãos, minha barriga estava inchada.
Um dia, eu estava de 25 semanas, passando perto do consultório do meu médico, decidi entrar e mostrar para ele.
Ele não estava, mas a secretária que é enfermeira, aferiu a minha pressão, disse que estava normal, e me disse:
” É normal ‘fia’, você está entrando no final na gestação, incha mesmo. Toma bastante água” Eu nunca vou esquecer essas palavras. Fui para casa tranquila, era uma quarta-feira.
Na segunda da semana seguinte, dia 05/11/2018, eu tinha consulta de pré-natal, eu acordei inteira inchada, meu rosto ficou redondo, parecia um ataque de abelhas, foi horrível, e essa mesma ‘adorável’ secretária/enfermeira quando eu cheguei, me olhou e disse: “Nossa, que isso, foi atacada por quantas abelhas?”
Acho que conseguem imaginar meu sentimento né?
Eu respirei fundo, olhei bem nos olhos dela e respondi: ” Não, eu acordei assim, mas é normal não é?”
Enfim, passei pelo médico, ele – óbvio – me internou, até então só para fazer exames, para ser mais rápido.
Internação
Eu sou uma pessoa ansiosa, nunca fiquei internada, e quando me falaram que eu não podia ficar com acompanhante, fiquei hiper nervosa, pressão começou a subir, na terça-feira de manhã fui transferida para a UTI com a pressão 18/12, tomando remédio na veia para abaixar a pressão.
Cheguei no hospital com 69 quilos e – pasmem – em 4 dias estava com 99 quilos.
Tiveram que colocar um PICC, um cateter que vai direto no coração, pois não tinha mais veias boas para medicação.
O Parto
Fiquei na UTI com o Luiz Miguel na barriga por 3 dias, na quinta-feira dia 08/11/2018, já não podiam mais esperar, a pressão não normalizava, eu não reagia, ele já não mexia mais, resultado, cesárea de emergência.
Era mais ou menos assim, se deixassem ele na minha barriga, eu poderia morrer, e consequentemente ele morreria, se tirassem ele teria 20% de chance de sobreviver as primeiras 48 horas de vida.
Lembram que eu disse no começo que ele nasceu no momento certo?
Pois bem, eu estava com infarto de placenta, o que significa que o meu corpo já não estava mais alimentando meu filho, ele morreria dentro de mim.
Eu continuei na UTI, não vi meu filho por mais 2 dias. E ele foi direto para UTI Neonatal, nasceu com 32 cm e 745 gramas.
Nunca foi para casa…
…não conseguiu por nenhum dia respirar sem a ajuda de aparelhos, teve 3 paradas cardíacas, convulsão, só recebia leite pela sonda, fez 2 cirurgias, uma de hérnia, e uma no estômago, diversos exames chatos.
Tinha sopro no coração, várias transfusões de sangue, foi transferido para um hospital em outra cidade na sua última semana de vida, um lugar que até hoje eu tenho pavor de lembrar.
E a última semana foi terrível, ele chorava e eu não podia fazer nada, porque não entendia o que estava acontecendo, ele ficou entubado, e para quem já viu alguém nessa situação sabe como é triste.
Imagine ver o seu filho, sedado, chorando sem poder fazer nada.
Eu não sei até que ponto era pra ser assim, não sei onde eu comecei a achar que foi negligência, não sei o que pensar até hoje, mais de 3 meses depois.
O Adeus
Ele se foi com 2 paradas cardíacas. Teve uma as 20:00 do dia 06/03/2019, 35 minutos parado. Voltou para se despedir, e para eu dizer que iria ficar bem, que ele podia descansar.
Escorreu uma lágrima dos seus olhinhos brilhantes, e ele se foi, com mais uma parada, as 21:00.
Foram 3 meses e 26 dias de vida, os melhores da minha vida.
Fica gravado na memória, no coração. Não sei o que seria de mim se eu não fosse mãe de anjo, mãe do anjo Luiz Miguel!
Ele é meu primogênito e por enquanto, único filho.
Falar sobre a perda de um filho é muito doloroso, mas ao mesmo tempo, faz bem pra alma da gente.
Quando dizem que ser mãe é a melhor experiência da vida, que você conhece o amor incondicional, que você daria sua vida pelo filho, se você ainda não é mãe, isso parece exagero, mas quando um filho nasce, (re)nasce a mulher MÃE, e você percebe que é tudo isso, e muito mais.
Sou grata a Deus pelo privilégio de ter sido mãe do Luiz Miguel, de poder conviver com ele, mesmo que entre as paredes e olhares atenciosos de uma UTI.
- Relato enviado pela seguidora Emanoelle Floriano, mãe do anjo Luiz Miguel.
Luiz Miguel 08/11/18 06/03/19
(@emanoelle.floriano ou @maedaneo)
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